sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

anjo sem asas

Um drama rápido, mas [in]tenso; doses cavalares
Corte e cole o meu coração quebrado, um retrato
Tomara que caia o vestido ,Odara
Trago desaforos..de nicotina, não guardo
Sonsa só morta, nunca estive aqui.
Parabólicalizando suas frequências, sem filtro
Artista de repente: pão, circo, mol e parede. Que charme!
Absolutely...blindada, bobagem!
Água nos olhos, teu bem
Anjo sem asas, mulher...
tesão em você.


"A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento."
Bertold Brecht 



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um Poeta louco no Centro Velho de Santos...

Doente dos olhos, que viram mulheres formosas. Doente da boca, que disse poemas em brasa. Doente dos nervos manchados de fumo e café. Doente dos olhos, da boca e dos nervos, hoje estou em repouso, não quero e nem posso escrever. Eu só quero um punhado de estrelas maduras, eu só quero a doçura do verbo 'viver'.
Que legal , Santos antigo, a boca do lixo, bem que eu procurava o cheiro do tabaco, o gostinho dos bares do porto, as tatuagens dos marinheiros, e as putas. Santos antigo, boca do lixo, neoclássico, piratas de famílias portuguesas.. ouro, sangue, luxo e luxúria. As ondas do mar contra o silêncio, um deserto se movendo, o vento contando segredos.
Mas eu gosto mesmo é desse perfil de otário louco suicida, como um centro velho que sempre está lá, parece um dejavú. Não sei se lhe digo 'te amo' ou 'vai tomar no cu'. Esse centro velho abandonado que é você.. como um telefone que não funciona mas ainda manda a conta. Alô, saiba você que os plásticos não respiram e os telefones também não transpiram, saiba você que msn não goza e que internet não tem prosa, nem num mundo subterrâneo e silencioso, populado por por ossos feitos de marfim. Por que você não foi Rimbaud? Por que você não comprou os dentes de elefante? Por que você não deu atenção aos livros da estante? Por que você não compra uma bicicleta? Seria muito mais lindo.
Estamos a caminho da boca do lixo, e ainda há gente que considera isso um luxo. Eu que sou um poeta raso faço desse caminho um antepasso de presságios de um verso inútil. Me encontro com um agiota de amores, perdido numa noite sem flores que deve ter o que contar. Mas nada disso tem a ver com poesia, o que é que você sabe do meu dia? Não adianta fuçar o meu iogurte nem o meu blog nem o que há sobre mim nas ruas imundas dessa cidade. Eu já olhei nos olhos das pedras das ruas e elas disseram: silêncio! Pediram, por trás das grades do silêncio,que eu sumisse daqui levando um pedaço do amor que eu tive, que eu levasse a morte do resto do meu amor, que eu fosse pra onde você não entre.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

como orvalho outonal ele chegou,discreto desperto,lavando a alma brilhando o dia,enfim ele chegou,alado elfo viajeiro pilotando uma potente motocicleta. Sim ele chegou e nem precisou pedir...fácil assim...é com ele que eu vou.E nem questionei aonde,biruta ao meio do vendaval, nao importa se a um festivo luto oriental,ou ao vendido carnaval...é com ele e tô legal,gosto e amo e sinto e confio, vou, bem. Fui,com ele e amém.

Descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais

Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores.
Os céus estão explorados mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando. Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador.
(Fragmento do Texto Disco Voador, de Fausto Fawcet)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Todo mundo acha que pode, acha que é pop, acha que é poeta
 Todo mundo sempre tem razão, vence sempre e na hora certa
 Todo mundo diz que sabe e quando diz que não sabe é porque é charmoso não saber algo que as pessoas já sabem como é
 Todo mundo é original, é especial, é o que todos queriam ser
 Todo mundo ganha grana pra dizer que ela não vale nada
 Todo mundo diz que é contra a violência e sempre dá porrada
 Todos querem se apaixonar sem se arriscar, nem se expor e nem sofrer
 Eu sou melhor que você mas por favor fique comigo que eu não tenho mais ninguém

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Váriações de um mesmo tema... Dylan e seus dilemas

Eu tenho os meus problemas, você tem os seus
Variações de um mesmo tema, ateus procurando Deus
Onde estamos? Pra onde vamos? Onde já se viu?
num retrato, num espelho, no mapa do Brasil...
Qual é seu signo? Que sangue você gosta de sugar?
Qual é o seu limite, se é que ele existe?
Se não existe, qual é?
Eu tenho os meus problemas, você tem os seus
Variações de um mesmo tema, Dylan e seus dilemas
Qual é o seu sexo, se é que ele existe?
Se não existe o complexo, qual é?
Não procure paz onde paz não há
Não procure alguém onde não há ninguém
Não procure um céu azul no mar vermelho
Não procure outras pessoas no espelho
Não procure mais, tá tudo aí
E ai de nós se o disco acabar
Se o rastro ficar invisível a olho nu
pois nossos olhos não usam black-tie
Ouça o que eu digo: não ouça ninguém
Só obedeça à lei da infinita highway
Piloto automático não leva a nenhum lugar
...não ouça ninguém...
E não tenha medo
Nem tudo tem explicação
Há mistério em quase tudo, nem todo veludo é azul
O coração sempre arrasa a razão
O que é preciso, ninguém precisa explicar
O mundo é muito grande pra quem anda de avião
Pra quem anda sem destino ele cabe na palma da mão
O coração sempre arrasa a razão
O sol ainda se levanta no meio de tanta confusão,
No meio da madrugada ele ilumina o Japão...
O coração nunca cansa da canção
O que tá escrito na canção
Ninguém precisa aceitar

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ela é morena, falsa magra, talvez tenha vinte anos ou quando muito 23, seus olhos são cor de cinza e eu quero olhar pra ela, mas olho pro chão. 

Ela está sentada no sofá logo na minha frente e se meu pai não estivesse morrendo, eu podia olhar suas pernas. 

Podia olhar seus joelhos quando ela cruza as pernas.

Podia olhar um pedaço das coxas.

Podia olhar seus ombros nus e morenos. 

E sua boca, que tanta sede me dá, eu também podia olhar se meu pai não estivesse morrendo.

Mesmo assim olho pra ela - disfarçadamente eu olho. 

Ela acende um cigarro e eu gosto do jeito dela sugá-lo e de como engole a fumaça e depois solta pelo nariz, mas escuto um gemido e me lembro que meu pai está morrendo. 

Então ela me olha com seus olhos cinzas e eu fico querendo cantar.

Tento pensar em meu pai.

Lá no sofá, a vizinha cruza as pernas - ela não devia fazer isso. 

Eu podia dizer pra ela que meu pai foi um homem triste. Acho que ela ia entender perfeitamente.

Todos na sala olham pra mim e a vizinha me olha com seus olhos cinzas e eu quero cantar, sim, eu quero cantar, e entro no quarto onde meu pai está morrendo.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

-


"A cobiça me engoliu
engoliu o que eu tinha
engoliu meu sonho
filha da puta de cobiça
ambição dos infernos
o desejo deu duas notícias
a boa é que ele te movimenta
a ruim é que ele te destrói
vilão e herói
veneno e remédio
depende da dose-idade
e de como lidar com seu tédio"

é mentira


"Eu falo e você sai,
como se nunca tivesse falado
se é desprezo o caso, 
retiro o que disse ao sair.

É MUITO, querer entender o próprio erro?!
se isso não for meu por direito,
decreto marginal, a dor no peito.
Disfarço, por medo, o querer..
Estranho é "não te conhecer"

Como faz um adevogado,
você só segue aquilo que pode por lei.
Se é só isso tudo bem, do passado,
trauma envelhecido que te impede, eu sei!

Volto indagar;
custa somente falar?
Pelo menos um: nunca mais.
Vê-se assim talvez desfaz
o que se eternizou em mim.."

que fase


Se é Deus quem faz as trocas
dos bons e ruins pelo caminho
só resta crer e esperar
se entregar pouquinho.

Pois no tempo curto,
a noite nega, o dia cega
até mudo e surdo.

Compoe a sua linha
junto com os teus
tudo faz-se "com-fusão"
de medo, amor e adeus!

Equilibrio pra quando, sem chão;
pense, lembre e considere
não passe em vão
pelo mundo, proteste!

Ame, e só se for por muito
tudo e todos, quem quiser
seja leve a ser amado
peito aberto pra quem vier.

Cuida da dor, permita sofrer
isso não vai alem do que merecer
presta atenção em você
e na tristeza, deixa doer..

Chore até o amanhecer 
que se renova em paixão
e sorrindo coração,
no gosto de viver!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sonha com o bosque das buscas -

Uma princesa fenícia em um pic-nic solitário ao pé do ipê florido, amarelo mercúrio, um delírio cego muito raro...porque não estávamos na primavera.
Flores de papel de seda, manufatura suspeita. Amigos que já não estão, vestem máscaras egípcias que mais dizem do que escondem...bebendo um vinho de mal gosto... ao fundo lágrimas de ferro...nuvens com cara de dragão cospiam relâmpagos quase crepusculares...e a tal fenícia. Me distraio com as miudezas do quintal...calma contínua... pastilhas florais.
E como dizia, pensava, sonhava ou sei lá...havia um embrutecido silêncio de árvores milenares contaminando o verde frescor da pequena selva úmida. Estúpido e romântico por instantes crê que era a única - a única vítima disponível nessa rotineira caçada telúrica- mas..maldito mantra de insetos - carpinteiro do universo inteiro – me fez instinto real desperto funesto...uaaauu leva um vagabundo raso básico prático profundo manual..caralho – estar vivo já é uma coisa de outro mundo – a merda com o fantástico surreal..não haveria naufrágio mais profundo..e que fossem..indícios de pele nos lençóis.. havíamos combinado algo sobre águas e pedras de riachos, uma fuga confusa e sabiam que não tinham grana, permutados hematomas por lágrimas e segredos ..duas doses de suor..e agora tão banais.

domingo, 18 de setembro de 2011

Pergunte às ruas empoeiradas, pergunte ao quarto empoeirado, pergunte às pessoas empoeiradas das ruas empoeiradas, as empoeiradas pessoas cansadas e velhas e prestes a se tornarem pó, aqui para morrer, os velhos caras, o pó de Indiana e Ohio e Illinois e Iowa em seu sangue, para empoeirar e morrer em uma terra desenraizada e empoeirada. Um ano atrás e tantos meses já são pó, mas há alguns que lembrarão, nenhum pó em sua boca, grande mentiroso falando sobre grandes histórias e provando com um conto em uma revista verde. Soprando o pó de sua amada história, comprando-as todas para que não se tornassem pó. Sim, pergunte ao pó na estrada.
Falo como uma lunática? Então me dê a demência, me dê aqueles dias de novo. Me dê uma novela excêntrica daquele que sentia pena da humanidade, realizador de êxitos insignificantes, a dó de nada, a cidade absurda à minha volta, sortuda madrasta do meu relento, e acima, duzentos passos acima, no meio da cidade, degraus consagrados, senhor, ele os escalou à imortalidade! Um dia, vocês pessoas, seus incrédulos, esses degraus badalarão com a memória, e além daquela tarde naquele muro alto haverá uma placa de ouro, e sobre ela um busto - a imagem de um rosto. Estou sozinha agora? Minha solidão traz frutos, e haverá um lugar amanhã para lembrar que uma voz escalou esses degraus, e o mecânico na esquina chorará de alegria enquanto conta a seus netos que um dia falou com um homem das eras. Daí para meu quarto, para conversar comigo mesmo no espelho. Ou talvez para praticar um pouco para meus dias vindouros, para arrumar o espelho em um ângulo, para ver como fico sentada à máquina de escrever, respondendo perguntas, piscando pacientemente. 

pergunte ao pó;

Ele está sozinho em Los Angeles. Ele escreve sonetos para essa garota. Ela lê os sonetos e joga-os na rua. Pergunte ao pó na rua, pergunte à serragem do Liberty Café, pergunte a maldita serragem suja naquele lugar e ela dirá que recebeu pedacinhos de papel e eles eram meus sonetos, porque ela não queria saber de mim, eu apenas a distraía, ela era louca pelo americano Sammy.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Os dias passam lentamente pra quem pensa nos dias

Quando as paredes e o teto caíram eu pensei que era o final. Mas era só o começo de um problema, só um pesadelo normal. 
No castelo dos destinos que se cruzam no tempo ninguém liga se já foi ou se ainda pode ser, semanas e semanas só pensando em você. O tempo pinga lento dentro do meu talismã, e nas estrelas de centauro hoje é o ontem do amanhã.
No castelo dos destinos cruzados o viajante que chegou pode ser você, então a morte vive aqui do lado só que a gente não vê.
Uma pessoa que ficou perdida, uma pessoa que caiu do céu.
Uma pessoa que você já conhecia muito antes de nascer e que você perdeu.

A gente tenta se esquecer mais todo mundo é uma ilha

Você me procurou, eu procurei dizer que não valia a pena
Você não escutou, você me acusou de estar fazendo cena

Você não sabe o que eu sinto
Você não sabe quem eu sou

A gente entrou num labirinto
Eu dancei, você dançou

Agora é noite, já não tem mais jeito, já não tem saída
Eu caí, você caiu...numa armadilha
No fim das contas a gente faz de conta que isso faz parte da vida

Agora já é tarde, já não faz sentido ficar se iludindo
No fim das contas a gente faz de conta
que o mundo não tá caindo.

Não levo fé nenhuma e nada


Ninguém tem o direito de me achar reacionário, mas eu não acredito no teu jeito revolucionário. Eu sei que você acredita nas notícias do jornal, mas tudo isso me irrita, me enoja e me faz mal. Por incrível que pareça teu discurso é tão seguro, talvez você esqueça: você também não tem futuro.
Você quer me pôr no agito do movimento estudantil mas eu não acredito no futuro do Brasil. Eu não vou morrer de fome, eu não vou morrer de tédio, eu não vou morrer pensando em qual seria o remédio.
Sei de cor seus comentários sobre o mal da alienação, mas eu vivo de salário, eu não vivo de ilusão.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

o sonho existirá nesse mundo que tritura?

o coração lento de um corpo sem paixão
um carrossel que sublima dias de exaustão
uma vida vivida dia por dia
um beijo à deriva
terra estrangeira incentiva a busca incessante do nexo do sexo
palavras que minha boca trai explodindo em minhas veias
um mundo cocainado, a inteligência do burro que vem depois
há muitas alterações na harmonia de meus passos
eu só quero amar e ser amada
mentira!
amo gratuitamente o invisível empatando com tudo
meu nome não diminuirá a fricção da minha angústia
com certeza alguém o decorou de sua lista telefônica

o fim?
a matéria exposta em grãos quando a natureza exibe a urgência de matar
a vida?
inimigo implacável além morte

buda comprando ações em wall street oficializou minha paciência
mas a poesia é uma prostituta que me ama e eu a beijo com minhas mãos rudes
eu amo o impossível
fantasia dilacerante do meu cérebro que meu corpo transformou em amizade
aliás
o extase?
é um pulmão numa cabine à prova de ar.

é tudo inventado

Os meus olhos foram feitos para ver coisas insólitas. Meu coração foi destinado a embriagar-se na beleza da presença ou na aflição da tua ausência.
A meta do meu amor é voar até o firmamento; a do intelecto, desvendar as leis do mundo, para além das causas... sempre existe algum mistério.
Os olhos estão ficando fracos, eles ficarão um pouco cegos quando virem que todas essas coisas são apenas miragens que nunca acontecerão.
Uma amante, difamada neste mundo por uma centena de acusações, receberá no momento certo cem títulos e nomes. Peregrinar nas areias do deserto nos exige suportar beber leite de camelo e ser pilhados por beduínos meu amor. 
Minha alma, o buscador é aquele que vai à própria mina de ouro e encontra o que procura, como tu fazes.

des-nexo

Passo a noite sem dormir esperando, vou até o Castelo de Kronborg roubar algum conhaque pra acalmar a ansiedade, o futuro tá mostrando sinais de que o relógio anda lento. Me olho no espelho e eu passo o pente no cabelo e eu falo comigo mas é numa postura cínica meio arrependida atrevendo frases que seriam ditas no vão de outro ouvido. 
 Já são 7 e 30 e eu ando de um lado para o outro como que num tédio qualquer ouvindo uma coletânea do led zeppellin que ganhei quando tinha onze anos. Pensei em fumar alguma coisa pra ficar mais calma, mas descobri que isso tira a energia vital, justamente a potência que me deixa neurótica, quando estudava à noite entre abril e agosto, era perto do mercado e eu cultivei esse hábito, de fato, isso também me escravizou, tal como a fome e a chuva e as pupilas que matam.

Os Três Mal-Amados

João Cabral de Melo Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.


O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!
Mário de Andrade

ardência,

Estava com a chama acesa, ainda silenciosa, como um esquimó sem bússola nem sul nem norte, e até os jogos de azar começaram a dar sorte, ela era doce e intuitiva, ela dizia...que os vícios alheios a ninguem importe.Justo no ponto onde não tem movimento algum, bem na boca do eixo terrestre, ali permaneceu sem reagir, dali não tem norte nem tem sul, porque é aí, justo aí o ponto...onde tem quietude e desgraça, e qualquer movimento é vício. 

faz-me um susto

Um inventário telúrico para sutilezas inumanas, biográficos rascunháveis de manhas e cama, 
ferormônios rascunháveis com que me envolvia a dama, la mala amiga la incestuosa hermana, 
inata feitiçeira precoce alma anciana, desprotegida malícia reiventada delícia, um brinquedo sem 
norte nem sorte enfeite da própria morte, santificada mandala mundana ,quinzeaneira pérola 
imundada de lama...oferta-me o busto, me faz um susto...de um oriental festivo luto premonitório. 
Sagrados são seus vícios e pra ti estou, seja nos dias que me odeia ou seja nos que me ama.

sábado, 3 de setembro de 2011

“Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central.”

Aprendi muitas coisas, mas nada de bom.


Não sei de nada mais lindo do que fogos de artifícios à noite. Bolas luminosas azuis e verdes sobem pela treva, e justamente quando estão mais belas, fazem pequena curva e se acabam. Ao contemplar isto, sinto alegria e, ao mesmo tempo, angústia; vai acabar mais uma vez, uma coisa depende da outra e é muito mais belo do que se devesse durar mais.  Mas nós seguíamos numa boa, sem carência, sem aborrecimentos, andávamos um em volta do outro, como novos amigos apaixonados. Se tudo tivesse ido bem, então teria conhecido o amor de maneira bela e feliz, o que talvez me tivesse ajudado a manter a cabeça no lugar. Pois veja, desde então tive muitos amigos, conhecidos e também amores; mas nunca mais acreditei na palavra de um ser humano ou me comprometi, eu mesma, pela palavra. Nunca mais. Estava destinada a viver ao acaso, não me deixaria faltar nem liberdade nem beleza.

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Porque eu nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de não descartar nada, me faz voltar para casa depois de me apaixonar a cada esquina, e querer uma cama só.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ouse,..ouse tudo.
Não tenha necessidade de nada! 
Não tente adequar sua vida a modelos, 
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. 
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. 
Se você quer uma vida, aprenda a roubá-la.

domingo, 14 de agosto de 2011



ISSO É O MEU DELÍRIO FALANDO

Ambos sabemos que lhe desgosta a mentalidade limitada de gueto e o materialismo vulgar. Sabemos também que acredita na sua capacidade de criar a sua própria estrutura moral. Então despeja todo esse conhecimento para dentro do seu cérebro pela abertura de três milímetros na sua íris. Logo olhará profundamente para dentro de sua vida e encontrará o desespero, é o preço pago pela autoconsciência. Aqueles que desejam a paz de espírito e a felicidade têm que acreditar e abraçar a fé, enquanto vocês que desejam perseguir a verdade devem renunciar à paz de espírito e devotar sua vida à desnudar todas as visões pré-estabelecidas.


Faz suas escolhas ou estará andando em uma fileira cerrada com todos os outros homens marchando em direção à morte. Precisa agora aprender a reconhecer sua vida e a ter coragem de dizer: “Assim escolhi!” O tempo é irreversível e a vida está se consumindo. Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um acidente. Encontra-te mesmo que no afeto doente próximo da loucura. Sois apenas um cérebro com os primeiros sinais de uma alma. A personalidade do gato ao contrário – animal de estimação na pele do predador.


Se é regido pelo desejo do tempo, ousa prematuramente. Não perderá tantos dias dançando a melodia errada. Como todos nós, desfruta de uma juventude infinitamente promissora, se dê ao trabalho de desvendar a natureza da sua promissão. Converte a sua vontade forte em um desejo amplo. Toma pra si a sua existência. Que importância tem a tensão e as dores de cabeça? Quem foi que lhe prometeu conforto? Você dormirá mal! E daí? Quem é que lhe promete sono tranquilo? A vontade se tornou impotente contra o “assim se deu”. Terás habilidade de transmutar o “assim se deu” no “assim se quis”?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Assim como ossos, carne, intestino e vasos sanguíneos estão encerrados em uma pele que torna a visão do homem suportável, também as agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade; ela é a pele da alma.

Imagine se eu ousasse dizer

dizer que a esperança é o pior dos males! Que deus está morto! Que a mentira é um erro sem o qual não conseguimos viver! Que os inimigos da verdade não são as mentiras, são as convicções! Que a recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais! Que os médicos não têm o direito de privar um homem de sua própria morte!

sábado, 6 de agosto de 2011

On the Road;

"Garotas e rapazes na América tem curtido momentos realmente tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a se submeterem imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares. Não me refiro a galanteios - mas sim um profundo diálogo de almas, porque a vida é sagrada e cada momento é precioso"


"Gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de uma estrela cadente para outra até desistir. Assim é a noite e é isso que ela faz com você, eu não tinha nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão."


"A humanidade se assemelha aos cães — se você não ficar zangado eles vão lhe morder – mas fique bravo e você nunca será mordido. Os cães não respeitam humildade e tristeza."


"Ofereça a eles aquilo que mais desejam secretamente; é claro que entrarão em pânico imediatamente."
                                                                                                                                - Jack Kerouak 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

por favor.

eu sou o sol, eu sou a lua, eu sou o universo, brilho puro
lá longe cada vez mais além, eu vejo a velha terra, a velha mãe, tão solta e linda e nua como eu
é sempre assim e sempre assim será

eternamente viajar no amor

Eternamente amar

Ama-me meu super mago homem fá-me especial. 
A gente faz as contas, projeta uma vida na outra, tenta se enxergar como se fosse outra pessoa... a gente busca espelhos por que viver é solitário. Busca simetrias porque a vida é torta. A simetria acalma. Talvez acalme por que nós mesmos somos simétricos. Uma linha imaginária, dos pés à cabeça, nos divide em duas partes iguais. Buscamos o que já somos? Esquecemos que esta simetria nunca é perfeita. Para o bom observador, sempre haverá uma perna mais curta, um olho mais caído, uma narina mais aberta...

Certo é que nossa mente busca simetria nas pinturas, nas catedrais e nas notas musicais. Entre passado e futuro, entre os óculos do John e o olhar do Paul, entre Beatles e Stones, assim no céu como na terra, assim na serra como no litoral. Entre mãe e pai, pai e filho, num par de pais a gente idealiza simetrias que não existem. Buscamos fatos que se repitam, uma ordem, um sentido, um padrão, um padrão, um padrão... Um padrão que não há. Não há padrões.

Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?

daqui pra frente
estou decidida
nada será
como tem sido
um jogo já jogado

provavelmente
ter escolhido
este caminho
só faz sentido
sem pressa
e para sempre

na alma da gente
já existia
cicatriz antes do corte
cinza antes do fogo
vida após a morte
Interrompida a minha música: como minha vida tinha sido, interrompida aos dezesseis anos, como minha vida tinha sido arrebatada, os olhos fixos e os fatos como em uma tela: um momento feito para não ficar parada mas eu estive parada em todos os outros momentos, o que quer que eles eram ou poderiam ter sido. O que a vida pode recuperar disso pra mim?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

há uma explosão aqui;

Talvez eu seja
um fenômeno
científico talvez
eu tenha nascido
numa descarga
elétrica talvez
eu seja o resultado
de vidas
não resolvidas

Eu sou apenas
eu
e não sei
porquê

Agora tudo parece
fazer sentido
mas os sentidos
logo
se vão
como as lembranças
dos meus sonhos

Há uma explosão
aqui
na minha cabeça

Há uma mente
na minha explosão.

Há uma explosão
aqui
no meu corpo

Há um coração
na minha explosão.

Não espere
de mim
o que não farei.

Não espere
de mim
o que farei.

Eu sou
um imprevisto.

Não me diga
o que eu poderia
fazer.

Não me pergunte
o que não pode
ouvir.

Há uma explosão
aqui.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

ESTÁ TUDO PLANEJADO:


se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva, se houver vento,
ou se eu estiver cansado dessa antiga melancolia
cinza, fria
sobre as coisas conhecidas pela casa
a mesa posta e gasta
Está tudo planejado:
apago as luzes,
no escuro abro o gás de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então...
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa onde possa dançar rock até cair.

O sol já iluminou o dia


...venha ver o que ele faz
Gente que canta de alegria,
Ou chora até não poder mais
Todo dia é um dia perfeito:
Uns esbanjam outros vão sobreviver
O sol já iluminou o dia,
Venha ver o que ele faz
Faz saber a quem não sabia
Que nunca será tarde demais

Tudo tem seu tempo certo,
O correto é saber viver

O sol já iluminou o dia,
Venha ver do que ele é capaz
Casais em torno da baía
E um homem solitário no cais
Tudo é questão de aprender
Mesmo com as dores que há de colher

Olhe agora, não é só você
E veja o que o sol ensina lá em cima.