terça-feira, 24 de maio de 2011

GOL;

            Somos uma colônia americana, nós temos os valores deles. A gente é capaz de parar pra ver uma bandeira dos Estados Unidos e fecha os olhos pra nossa em cada esquina. Nós usamos camisa escrito USA. Nós usamos camisa escrito 'Brazil'.
            Brasieleiro só sabe ser unido em copa do mundo. É a única vez que vocês se unem, o cara não quer saber se eu sou branca, preta, ou azul, eu posso ser suburbana ou milionária, não interessa. É quando nós conseguimos ser reais, ser realmente nacionalistas.
           Esporte é o que faz dessa merda de país uma nação. Você sai de casa, tira seu carro e manda todo mundo subir, não importa se tem alguém que é preto ou desdentado, se alguém ali não pode pagar a conta, você não quer saber, você é irmão. E é só aí que nós somos irmãos...gol!

seis maçãs de ouro compradas com o meu dinheiro.

Todas as espécies de tristeza deixei para trás há muitos dias quando me fizeram mal.
Mas serei sua para sempre, alguma vez subo no sonho e me vejo ali.
Profundamente vermelhos são os acasos,
Pretas são as noites nas areias dos dias de verão.
Encontraremos a mancha pequena da verdade em cada enigma:
mantenha o primeiro grão do amor nas nossas mãos..

agora eu sou um inseto.


A loucura é outra coisa, não ter nexo. Não é isto o que me acontece nessas vezes, cada vez mais, em consequência do enredo da ausência. Porque exijo a sinceridade também para mim, vou ser sincera contigo. Funcionas assim, vago. Se detenho as minhas mãos, sobretudo a mão direita, no vício do tabaco é para que, comigo embargada pelo consolo da nicotina, os andaimes que escoram o vazio feito no esgoto do meu peito não me magoem. A loucura é outra coisa, repito. Histerese é o que sofro, mal que, com a sua demora, o tempo há-de curar. A minha distância a ti é um exercício livre. Sofro-a sem tormenta e sem paixão, como acontecimento. Quando você escolhe a dor, ela deixa de doer. É semelhante à fuligem primaveril, aos primeiros dias de calor morno, interrompidos pela morte da tarde. Algo que acontece porque tem de acontecer. Digo-te ainda que sinto-me suja e compreendo a dúvida do que sinto. Pela metamorfose da distância, cresceram-me asas. Agora sou um inseto, sou um pássaro, sou ninguém. Não me incomoda. A impossibilidade disso combina com a minha vontade. Sabe? Não quero voar, quero continuar.

domingo, 22 de maio de 2011

Menina graciosa na luz meio-tom de uma jovem manhã, ela suspira e se ajeita no travesseiro.
E através de sua face as primeiras sombras voam para beijar a menina graciosa.
Em seu mundo de conto de fadas, ela é um alma penada cantando em uma voz triste que ninguém ouve.
Ela não espera pela aparição de seu cavaleiro branco, ela não tem um castelo de fantasias.
Menina insana descendo a avenida forrada escovando o sono dos seus olhos de mulher jovem.
Corre reduzindo seus sonhos. Corre para o trem. Ouça a sua máquina de escrever zumbindo,
reduzindo seus sonhos novamente.
Ela almeja ir para o mundo com um vestido branco esvoaçante, uma casa de madeira e um amor.
Ou pescar no lago dos fundos de casa, dando uma volta pela Primavera, ou morrer por uma causa em algum lugar.
Mas o seu futuro demora pra chegar e o presente está reduzindo seus sonhos novamente.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Quebrando corações em uma cidade marcante.

            Ela não entende as voltas que a sua mente dá, ela não sabe o que você viveu. Ela rejeita os seus sonhos, porque seus sonhos são absurdos. A menina má tem os mesmos sonhos, entende você, em silêncio, só entende. Se você sobe nas asas da menina má você viaja o mundo num segundo, você conhece o paraíso de que tanto falou. 
           Ela é uma boa menina, mas a menina má é melhor. A menina má não é má, é confusa em suas milhões de miragens e suposições. Qualificada em ambos os sentidos em sua mente. Mas agora ela está beijando Willie.
A menina má mostra uma perna, ela mostra muito bem. Mas não sabe como deixar um homem agindo como uma criança.
          Ela é uma garota legal, mas a má é ainda melhor. Eu posso ver pelos seus olhos trapaceiros dissimulando e sei que em algum momento ela vai estar beijando Willie.
         A menina má levanta e cai. Bate a cabeça por trás dos muros cinzentos.
         A menina má vai ser uma boa garota quando crescer. Ela nunca mais foi a menina que você conheceu. Mas você e Willie não podem deixar de atender quando ela chama.

Farei amor com você em todos os bons lugares, embaixo das montanhas pretas, em espaços abertos. Em rios marrons profundos que escorregam obscuramente pela marcha distante onde a lebre azul corre. Venha comigo à Ilha Alada. A criança do oeste e seu pai do norte, onde a dança das idades ainda está jogando pela marcha distante de Acres Selvagens.
Farei amor com você nas ruas mais estreitas com o fechar das janelas, esmigalhando as chaminés, por tijolos vermelhos apontados com dedos de cimento escamando umidamente os joelhos.
Venha ver comigo a cidade cansada. Discotecas silenciosas embaixo das telhas naquele escorregador de telhados, desamontando de mansinho na marcha concreta de Acres Selvagens.

o círculo

Primavera é para iniciantes. Minha estação preferida é o outono. Gosto de caminhar pelas ruas da cidade. Sobretudo sobre folhas mortas. Meu tênis favorito não é o mais confortável, é um desses que não têm cadarço. Gosto dele porque, com o tempo, o tecido vai ficando marcado com o desenho dos pés. Fica engraçado. Olhando de cima, passo a passo, parece um par de sudários passeando pelas calçadas.
Sem forçar a imaginação, vejo passar um alemãozinho. No walkman, as pilhas gastas fazem a fita girar mais lenta e a música soar meio tom abaixo. Ele ouve o mesmo Jean Luc-Ponty, tocando Cosmic Message, que rola do meu iPod. Os carros que passam pelo guri são Brasílias, Mavericks, Chevettes e Corcéis. Os que passam por mim, não distingo. Talvez por estar cansado de ver automóveis, ou porque a aerodinâmica deixou todos iguais.
Sem forçar a imaginação, passo por mim mesmo. Ecos de Roger Waters cantando “strangers passing on the street / by chance two separate glasses meet”. Estranho? Sim, o passado é tão estranho quanto o futuro era. Estranhos? Sim, mas, mas nos olhos, o mesmo olhar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

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Natural, há um oceano na cabeça. As pessoas, livros, desenhos, músicas, gritos, sussurros e silêncios são apenas as ondas que chegam à praia. E as ondas voltam. Sempre. Nunca iguais. Deve ser o que chamam “ponta do iceberg”. Talvez, depois de anos, o resto do iceberg fique mais visível. Talvez não. Há quem diga que a função das palavras é esconder o que sentimos. Eu não digo.
“Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina – ela repetiu olhando-se bem nos olhos, em frente ao espelho. Ou quando começa: certo susto na boca do estômago. Como o carrinho da montanha-russa, naquele momento lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois de subidas e descidas, em direção àquele ponto seco de agora. Restava acender outro cigarro, e foi o que fez”

domingo, 15 de maio de 2011

"O que quer dizer essa de 'proteção do meio ambiente'? Pra começar, é ensinar as pessoas a viverem juntas. É isso aí que a gente devia aprender nesta escola fodida, a se interessarem uns pelos outros, em vez de cada um
querer ser mais que o outro, ser mais forte que o cara ao lado e passar o tempo a fazer malandragens para ter uma nota melhor".
"Fiquem aí com as suas 'contraculturas', suas maneiras excêntricas de viver, desde que não perturbem a 'nossa vidinha'. Vocês acabarão compreendendo que, para sobreviver na nossa sociedade hiperorganizada e impiedosa, somos
forçados a com ela cerrar fileiras!"

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Me diga que você tem aproximadamente tudo que você quer, e seu pássaro pode cantar, mas você não me pegar. Você diz que viu sete maravilhas, e seu pássaro é verde, mas você não pode me ver. Quando suas escolhas começarem a jogar você para baixo, vai olhar em minha direção eu vou estar aí, mas vou estar longe. Quando seu pássaro estiver quebrado vai te derrubar? Você pode ficar acordado estarei aí, mas vou estar longe. Me diga que você ouviu um som, e que seu pássaro pode cantar, mas você não pode me ouvir, você não pode me ouvir.

onde se refugiam coisas que não são, e temem de vir a ser?

Trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozes barganhando uma informação difícil. Agora silêncio. Apuro técnico. os canais que só existem no mapa. O aspecto moral da experiência. Primeiro ato da imaginação. Suborno no bordel. Eu tenho uma ideia. Eu não tenho a menor ideia. Uma frase em cada linha. Um golpe. Memórias às três da tarde. Mulher. Marcianos muito sentimentais. Quando a memória está útil, usa. Agora é sua vez. Do you believe in love...? Então está. Não insisto mais.
Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar
Não acredite no que eles dizem
Perceba o medo de amar
Eu cresci ouvindo anedotas, clichês e
chacotas
Frustrações
Sobre amasiar, se casar
Se entregar seria fraquejar
Te amo, te amo, te amo
E se o tempo levar você
E um dia eu te olhar e não te reconhecer
E se o romance se desconstruir
Perder o sentido
E eu me esquecer por ai
Mas nós somos um quadro de Klint
"O Beijo" para sempre fagulhando em cores
Resistindo a tudo seremos
Dois velhos felizes
De mãos dadas numa tarde de sol
Pra sempre

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Limpemos os pensamentos empoeirados de uma era sombria. O tempo e o espaço não giram a nosso favor, mas nossos sonhos sim, nossos planos também. Será que vocês enxergam, humanos deste mundo presente? Será que compreendem?
Daqui onde posso sentir o ritmo não é tão suave. Não permite passos tão lentos. Ouça. Enxergue as cores do som tão rápido quanto sabores lhe invadindo a carne. E quando puder, olhe pra trás. Vê que nada do que deixas é concreto? Nenhum desses devaneios mal sucedidos..é a monotonia da ressaca que salva a sua lembrança do dia comum.
Assovios de uma nostalgia lúdica, vozes de um futuro tão oculto. Tão escuro quanto farois...burgueses. Desses que rasgam na cegueira, a percepção. Intermédio os ruidos humanos nós já estamos longe do presente. Num lugar onde me perco do tempo o qual já te perdeu, nos teus milhões de ideologias bossais.
Perder do caminho que escreve um destino tão real quanto não podemos imaginar. Onde é que está a força do seu sonho? Essa não pode ser a melhor maneira.

névoa.

Inacessível.
De caos e luxúria, gavetas do acaso e da vergonha.
A companheira do inferno.
Que habita acima do real, sobre abismos projetada.

E há corcéis, há corceis de fogo rompendo o horizonte.
Carapaças, esteroides e sangue
árdido sangue pinga
como a única forma de ser, eterno.
É como se a alma se desprendesse da matéria. Borboleta que deixa o casulo pra se descobrir. Procura com desespero pacto entre o vivo e o mort, misterioso e rápido, signos da tempestade no espelho. Nos caminhos sob a lua há uma proximidade entre flor e abismo. Promessa do eterno que alguém desvenda o seu segredo.