quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ela é morena, falsa magra, talvez tenha vinte anos ou quando muito 23, seus olhos são cor de cinza e eu quero olhar pra ela, mas olho pro chão. 

Ela está sentada no sofá logo na minha frente e se meu pai não estivesse morrendo, eu podia olhar suas pernas. 

Podia olhar seus joelhos quando ela cruza as pernas.

Podia olhar um pedaço das coxas.

Podia olhar seus ombros nus e morenos. 

E sua boca, que tanta sede me dá, eu também podia olhar se meu pai não estivesse morrendo.

Mesmo assim olho pra ela - disfarçadamente eu olho. 

Ela acende um cigarro e eu gosto do jeito dela sugá-lo e de como engole a fumaça e depois solta pelo nariz, mas escuto um gemido e me lembro que meu pai está morrendo. 

Então ela me olha com seus olhos cinzas e eu fico querendo cantar.

Tento pensar em meu pai.

Lá no sofá, a vizinha cruza as pernas - ela não devia fazer isso. 

Eu podia dizer pra ela que meu pai foi um homem triste. Acho que ela ia entender perfeitamente.

Todos na sala olham pra mim e a vizinha me olha com seus olhos cinzas e eu quero cantar, sim, eu quero cantar, e entro no quarto onde meu pai está morrendo.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

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"A cobiça me engoliu
engoliu o que eu tinha
engoliu meu sonho
filha da puta de cobiça
ambição dos infernos
o desejo deu duas notícias
a boa é que ele te movimenta
a ruim é que ele te destrói
vilão e herói
veneno e remédio
depende da dose-idade
e de como lidar com seu tédio"

é mentira


"Eu falo e você sai,
como se nunca tivesse falado
se é desprezo o caso, 
retiro o que disse ao sair.

É MUITO, querer entender o próprio erro?!
se isso não for meu por direito,
decreto marginal, a dor no peito.
Disfarço, por medo, o querer..
Estranho é "não te conhecer"

Como faz um adevogado,
você só segue aquilo que pode por lei.
Se é só isso tudo bem, do passado,
trauma envelhecido que te impede, eu sei!

Volto indagar;
custa somente falar?
Pelo menos um: nunca mais.
Vê-se assim talvez desfaz
o que se eternizou em mim.."

que fase


Se é Deus quem faz as trocas
dos bons e ruins pelo caminho
só resta crer e esperar
se entregar pouquinho.

Pois no tempo curto,
a noite nega, o dia cega
até mudo e surdo.

Compoe a sua linha
junto com os teus
tudo faz-se "com-fusão"
de medo, amor e adeus!

Equilibrio pra quando, sem chão;
pense, lembre e considere
não passe em vão
pelo mundo, proteste!

Ame, e só se for por muito
tudo e todos, quem quiser
seja leve a ser amado
peito aberto pra quem vier.

Cuida da dor, permita sofrer
isso não vai alem do que merecer
presta atenção em você
e na tristeza, deixa doer..

Chore até o amanhecer 
que se renova em paixão
e sorrindo coração,
no gosto de viver!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sonha com o bosque das buscas -

Uma princesa fenícia em um pic-nic solitário ao pé do ipê florido, amarelo mercúrio, um delírio cego muito raro...porque não estávamos na primavera.
Flores de papel de seda, manufatura suspeita. Amigos que já não estão, vestem máscaras egípcias que mais dizem do que escondem...bebendo um vinho de mal gosto... ao fundo lágrimas de ferro...nuvens com cara de dragão cospiam relâmpagos quase crepusculares...e a tal fenícia. Me distraio com as miudezas do quintal...calma contínua... pastilhas florais.
E como dizia, pensava, sonhava ou sei lá...havia um embrutecido silêncio de árvores milenares contaminando o verde frescor da pequena selva úmida. Estúpido e romântico por instantes crê que era a única - a única vítima disponível nessa rotineira caçada telúrica- mas..maldito mantra de insetos - carpinteiro do universo inteiro – me fez instinto real desperto funesto...uaaauu leva um vagabundo raso básico prático profundo manual..caralho – estar vivo já é uma coisa de outro mundo – a merda com o fantástico surreal..não haveria naufrágio mais profundo..e que fossem..indícios de pele nos lençóis.. havíamos combinado algo sobre águas e pedras de riachos, uma fuga confusa e sabiam que não tinham grana, permutados hematomas por lágrimas e segredos ..duas doses de suor..e agora tão banais.